“Banco da Família tem uma visão social no seu DNA”

Fundado em 1998 como um movimento da Associação Empresarial de Lages (SC), o Banco da Família surgiu em um momento de depressão econômica da região e, desde então, mantém como propósito impulsionar negócios de micro ou pequeno porte. Adotando um modelo enxuto e sustentável, ganhou musculatura ao atrair novos parceiros e implementar a diversificação de produtos ao longo dos últimos 23 anos. À frente do projeto desde o início, Isabel Baggio se orgulha do crescimento do Banco que hoje tem 23 mil clientes ativos em 171 cidades dos três estados do Sul, e que, segundo a Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred) é a maior instituição de microfinanças do Sul do país –, já concedeu mais de R$ 1 bilhão em crédito em pouco mais de 400 mil operações, tendo impactado mais de 1,3 milhão de pessoas. Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, a presidente do Banco da Família, Isabel Baggio fala dessa trajetória, da visão social do projeto e dos desafios enfrentados durante a pandemia. Confira:

Como surgiu o Banco da Família?

O Banco da Família começou em Lages em 1998, naquela época eu era a presidente da Associação Empresarial e, com o seu braço feminino, que era a Câmara da Mulher Empresária, foi criado como o Banco da Mulher. Em paralelo a isso, o Sebrae fez uma pesquisa que constatou que o maior problema dos micros e pequenos negócios era o acesso ao crédito. Naquela época começava em Bangladesh as atividades do Yunus Bank, voltado para o microcrédito. Algo que era muito distante mas que servia como uma bússola. Junto com isso, a Acil participava de um projeto junto a Facisc chamado Projeto Empreender e nós fizemos uma missão e fomos à Itália e à Alemanha conhecer de perto as ações voltadas ao crédito e gestão de pequenos negócios. Somando todo esse conhecimento montamos uma associação de microcrédito aqui, inicialmente para atender Lages. Mas fomos percebendo ao longo do tempo que existia uma necessidade em municípios da região e, assim, fomos abrindo a possibilidade de atendimento na microrregião.

De onde vieram os recursos?

Os recursos que nós emprestamos vieram de doações de empresas associadas em forma de doação. E essas doações serviram para captar outros recursos, sob a forma de empréstimo. O foco sempre foi fomento, de auxiliar na construção de créditos voltados aos pequenos negócios, sejam formais ou informais. As empresas nascem de forma muito empírica. Não são empreendedores por natureza e sim por necessidade. Muitas vezes as pessoas abrem um negócio, ele não vai tão bem, daí migram para outros negócios e vão se adaptando ao mercado. Daí, depois de um tempo de maturidade, muitos negócios se formalizam e se institui como uma microempresa, de pequeno porte, ou até uma MEI, mas o fato é que ela precisa de um tempo de maturação.

 Mas de Lages hoje o Banco da Família está em várias cidades dos três estados do Sul. Como foi este trabalho?

Nós fomos pesquisando o mercado e percebendo que tinha oportunidades para o Banco da Família. Claro que o Banco da Família tem um DNA empresarial, é uma organização social, mas a visão é de crescimento e de apoio cada vez maior a mais pessoas. Daí de Lages e região fomos a Vacaria, Caxias do Sul, Meio Oeste de Santa Catarina, seguimos para o Paraná e por último na Grande Florianópolis.

| Foto Divulgação


“Nessa pandemia criamos uma força-tarefa para ajudar os nossos clientes em várias ações, mas também para ajudar os nossos colaboradores.”

Diante desse perfil, o Banco da Família tem uma operação simples?

A linguagem usada com nossos clientes fácil, amistosa, com atendimento personalizado através de uma figura chamada agente de crédito, que vai até a casa das pessoas, descreve o contexto familiar e empresarial, vê suas necessidades, auxilia no quanto esse cliente precisa de recurso, porque muitas vezes as pessoas não têm condições de avaliar qual a sua real capacidade de pagamento e qual o valor que ela precisa para comprar equipamentos, casa, ou para capital de giro. Enfim, esse agente de crédito tem a importância de mostrar para esse cliente que o empréstimo não se torne mais um problema e sim a solução.

O Banco tem uma linha de crédito voltando para saneamento. Como funciona?

Nesse projeto de saneamento nós temos um parceiro forte que é uma organização chamada whater.org, uma organização americana que se preocupa com o melhor uso da água em vários países. E através de sensibilização nós fomos fazendo com que as pessoas percebessem que a responsabilidade do saneamento é da família. Muitos acham que o saneamento de suas casas seja de responsabilidade do poder público e isso não é verdade. O poder público tem a obrigação de colocar uma rede adequada na frente das casas, pelas ruas, etc. Ou então as pessoas acham que é caro e que não têm recursos. E nós temos linha de crédito para banheiro, caixa d’água, fossa, encanamento que facilita a vida das pessoas e diminui os casos de doenças nas famílias. Porque estudos mostram que a cada R$ 1 investido em saneamento as famílias economizam R$ 6 em saúde. Nós temos como princípio melhorar a qualidade de vida das pessoas e saneamento é qualidade de vida. Nessa linha de crédito já emprestamos R$ 22 milhões e queremos ampliar cada vez mais.

Como está o Banco em função da pandemia?

No ano passado criamos o comitê de crise e fomos tomando as providências necessárias tanto para a segurança das pessoas do banco e lembrando que as pessoas que trabalham como Banco são as mais impactadas. Então, olhando para nossos colaboradores e para os nossos clientes, criamos uma força-tarefa que segue no trabalho no sentido de dar guarida para as pessoas que tiveram os trabalhos e a renda interrompida. E dou exemplos: é o marceneiro que pôde entrar na casa das pessoas; o encanador; a diarista; enfim, qualquer tipo de serviço, a pessoas que tem uma loja que ficou fechada. E essas pessoas não têm reservas para segurar uma pandemia que dura mais de um ano. Então nós tivemos presentes de várias formas: ou prorrogando seu empréstimo, fazendo renegociação, concedendo um empréstimo menor, mas não excluindo ele da vida do Banco da Família e sim achando uma condição adequada para uma crise que a gente ainda não sabe quanto tempo vai durar. Também mudamos muito a nossa forma de atendimento, que é sempre pessoal, personalizada, e passamos a usar meios digitais para chegar aos nossos clientes. Além disso, ajudamos famílias com doações de cestas básicas, atendemos clientes com dificuldades emocionais, com nossos colaboradores também, fizemos uma doação para o Centro de Triagem, enfim, através de nossos parceiros auxiliamos no pagamento de juros de clientes que estavam em estado de vulnerabilidade. Foram ações que colaboraram para minimizar as dificuldades durante a pandemia.

O banco tem uma visão social?

O Banco da Família é uma organização social, e tudo o que fazemos, de uma forma mais intensa ou menos intensa, tem um movimento social muito forte. Todo o trabalho do Banco da Família tem um viés social importante porque está no nosso DNA. O nosso propósito é melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Por Ewaldo Willerding, em SC Portais.

Banco da Família chega à marca de R$ 1 bilhão em microcrédito

Pequenos empréstimos no sul do país ./Getty Images

O Banco da Família, que faz pequenos empréstimos no Sul do país, atingiu sua marca histórica de 1 bilhão de reais em créditos concedidos a 400 mil micro e pequenos empreendedores. Desde que começou a pandemia foram cerca de 134 milhões de reais em quase 29 mil operações. A inadimplência média do banco é muito baixa, de 2,2%. “Tivemos um período muito difícil (durante a pandemia), principalmente em abril, quando a pandemia trouxe grande retração e incertezas. Mas buscamos nos adaptar e permanecer ao lado dos clientes, oferecendo soluções como a renegociação de débitos”, diz a presidente do banco, Isabel Baggio. O banco está presente em 164 municípios dos três estados do sul.

Por Josette Goulart, Veja.

Banco da Família chega a R$ 1 bilhão em empréstimos e microcrédito avança

Isabel Baggio
Presidente do Banco da Família

O Banco da Família, maior instituição de microcrédito da Região Sul, com sede em Lages e atuação em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, acaba de atingir R$ 1 bilhão em empréstimos concedidos em 20 anos de atuação. Essa modalidade de crédito oferecido por organizações sociais de interesse público (Oscips) como o Banco da Família e outras 13 em Santa Catarina tem sido a mais acessível para pequenos negócios na pandemia. Foi uma atuação natural para o segmento que nas últimas duas décadas emprestou mais de R$ 4 bilhões no Estado.

O Banco do Empreendedor, com sede em Florianópolis, registrou crescimento de 30% no total de recursos emprestados no primeiro trimestre deste ano frente ao mesmo período do ano passado. Essa expansão é semelhante a registrada pelo Banco da Família em 2020, quando o total de contratos somou R$ 106,5 milhões, 28% mais do que no ano anterior.

Microcrédito cresce 12,7% na Região Sul e terá a linha emergencial em SC

Segundo a fundadora e presidente o Banco da Família, Isabel Baggio, a instituição realizou em duas décadas quase 400 mil operações de crédito. Atualmente, está presente em 164 municípios e os recursos que liberou até agora beneficiaram mais de 1,3 milhão de pessoas.

Programa Estímulo, de crédito a pequenos negócios, começa em SC

– Por meio desses recursos conseguimos impactar muita gente. Inúmeros empreendedores puderam impulsionar seus negócios de micro ou pequeno porte e gerar empregos e renda para famílias que enfrentam dificuldades – afirma Isabel Baggio.

O início de atividades, em Lages, foi com microcrédito voltado para investimentos de pequenos negócios formais e informais. Agora mais consolidado, o banco oferece linhas de crédito também para capital de giro, saneamento básico, reforma e construção de residências populares.

Conforme Isabel Baggio, o impacto da pandemia, que forçou as pessoas a ficarem mais tempo em casa, foi um dos motivos do crescimento do volume de recursos emprestados. As pessoas estão investindo em banheiro, ampliação da casa ou até na aquisição de imóvel novo. Como é uma ONG que não visa lucro, o banco investe todo o lucro na própria instituição e amplia atividades. Segundo ela, um dos planos é destinar mais recursos para melhorar as condições sanitárias das famílias, linha que já emprestou R$ 22 milhões.

Dinheiro na pandemia

Como o acesso a empréstimos no setor público continuou difícil na pandemia apesar das linhas especiais lançadas, o microcrédito tem sido a alternativa para a maioria dos empresários do segmento de micro e pequenas empresas, microempreendedores individuais (MEIs) e também empreendedores informais. A conclusão é de Luiz Carlos Floriani, presidente do Banco do Empreendedor, Oscip com sede em Florianópolis e atuação em Santa Catarina.

Um destaque é a prefeitura de Florianópolis que foi a primeira do Brasil a oferecer um programa de juro zero para pequenas empresas e, também, pioneira na oferta de microcrédito com maior prazo de carência para empresas com dificuldades na pandemia. Por isso, na Capital, um empresário pode tomar recursos com juro zero do programa da prefeitura e também do governo do Estado.

Os recursos são procurados também por empresas não afetadas pela pandemia, observa Floriani. A maioria busca para capital de giro ou investimento em tecnologias digitais para tornar os negócios mais competitivos. Para capital de giro o prazo médio é 12 meses e o valor das operações vai de R$ 200 a R$ 30 mil. Segundo ele, apesar da taxa mensal de 2,95% parecer cara, não é muito diferente do custo do setor financeiro tradicional.

Por Estela Benetti, em NSC Total