O Banco da Família, instituição de microfinanças catarinense, chegou ao número de mil casas financiadas para famílias de baixa renda. A linha de crédito, exclusiva para construção de imóveis de até R$ 25 mil, surgiu após a constatação de que o microcrédito pode ir além do financiamento de pequenos negócios. “O crédito para construção da casa própria insere as famílias em um contexto de desenvolvimento social, que costuma gerar empoderamento financeiro e incentivo para que melhorem a capacidade econômica”, diz Isabel Baggio, presidente da instituição. Por meio do BF Casa, já foram concedidos R$11 milhões em crédito.
A linha de crédito “BF Casa” surgiu em 2012, mas apenas em dezembro de 2016 tomou fôlego para se instalar em todas as cidades de atuação do Banco da Família. A iniciativa começou tímida, em 2012 foram apenas 7 casas e até novembro de 2016, não chegaram a 300. “Tínhamos uma média de cinco casas financiadas por mês”, acrescenta a presidente Isabel Baggio. “Percebemos que nossos agentes de crédito não se sentiam confiantes para liberar este produto, eles tinham um certo receio por se tratar de uma casa de madeira, tinham muitas perguntas sobre qualidade e questões técnicas da casa”.
Para impulsionar a linha de crédito, analisaram todas as condições de qualidade das construções, fortaleceram as parcerias com fornecedores de confiança, fizeram treinamentos intensivos com os agentes de crédito de todas as unidades e ofereceram uma promoção durante três meses reduzindo as taxas de juros para clientes. Agora, a linha financia em média 40 casas por mês e possui taxa de inadimplência recorde.
A ideia é que até o final deste ano, a instituição passe a financiar cerca de 60 casas por mês e amplie ainda mais o leque de fornecedores, além de impulsionar as outras linhas de crédito voltadas para saneamento e melhorias na residência. Apesar de não ser uma ação voltada diretamente para o desenvolvimento econômico, o financiamento de imóveis para famílias de baixa renda se tornou uma das principais frentes da instituição, representando 12% da carteira e fortalecendo o cumprimento da missão institucional.
Para Isabel Baggio, alcançar esse marco de mil casas financiadas representa, além de um marco, muita resiliência. “Este não é um produto simples de entregar, o valor dele é alto, em comparação ao nosso ticket médio – que é de R$3 mil – o ticket dessa linha é de R$11 mil”, diz. Para ela, o sucesso se deve, em grande parte, à metodologia de análise de crédito, que foi revisada e fortalecida para que os agentes se sentissem capacitados e empoderados para oferecer este produto. “Percebemos que a análise deve envolver todos os moradores da casa e os agentes devem atuar também como educadores financeiros, ajudando essas famílias a organizar as finanças e evitando que façam dívidas”.
A presidente diz também que o Banco, apesar de ser uma organização social que não visa lucro, também não pretende ser confundida com uma entidade filantrópica. “Tomamos o cuidado de verificar que todas as famílias que utilizam o crédito possuem formas de gerar renda. A maioria sobrevive de trabalhos informais, que não seriam aceitos como garantia por outros bancos, por isso temos agentes de créditos capacitados para identificar esses casos e viabilizar a contratação de forma segura para todos”, explica.
20 anos de transformação social
Com sede em Lages, SC, e prestes a completar 20 anos de atuação, o Banco da Família é uma instituição de microfinanças certificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e já concedeu mais de R$ 500 milhões de crédito, para 264.517 pessoas. Considerada a maior operação de microcrédito do Sul do país, no momento possui 17 mil clientes ativos e 147 funcionários. A instituição tem atualmente 20 unidades, que alcançam 78 municípios espalhados pelos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Segundo levantamentos da Microrate, empresa especializada em avaliação de desempenho e risco, o Banco da Família está classificado como a melhor instituição de microfinanças do Brasil e ocupa o quarto lugar no cenário composto por instituições de microfinanças da América Latina e Caribe.
Por Rogério Kiefer